Dois trabalhos publicados no DN de hoje merecem referência: * A entrevista de Mário Mesquita a Armando Rafael, na qual o antigo director do DN e do Diário de Lisboa tenta "antecipar as tendências que podem marcar a informação dos jornais e das revistas ao longo de 2003". Algumas ideias: "Um jornalismo descontextualizado facilita o aparecimento de um jornalismo de estados de alma. Ora um dos papéis que a imprensa pode ter é dar esse enquadramento, mostrando que agora há uma crise, mas que já houve situações bem piores. Até porque há públicos jovens que desconhecem essas situações e que não têm, nem têm obrigação de ter, tal memória". "Assim como a retórica dos títulos inflamados não faz uma boa imprensa, também não me parece um boa ideia ficar agarrado a uma certa sobriedade monacal. Mas o jornalismo faz-se todos os dias, hoje, se calhar, mais ligado ao marketing, mas mesmo aí tem havido surpresas agradáveis, como verificar que o livro até é um bom veículo de promoção para um jornal". "Há duas vertentes que o jornalismo pode explorar e até combinar. Uma é a vertente mais narrativa da história que envolve uma personagem, e que parte da ideia de que o jornalismo constrói personagens, à semelhança do historiador e do ficcionista. O que significa uma certa aproximação a um modelo da literatura. Outra é o desenvolvimento de temas, dossiers ou inquéritos, que corresponde a uma maior aproximação às ciências sociais, e que se pode apoiar nas sondagens e em vários especialistas. Mas também pode haver pontes entre estes dois modelos. Este jornalismo mais sociológico pode ser complementado ou ilustrado com pessoas ou com exemplos em concreto". "O público que lê jornais em Portugal é restrito, mas exigente. O que torna isto tudo muito complicado são as empresas, que são obrigadas a fornecer produtos de qualidade, sabendo que o fazem para um mercado pouco elástico. Por isso, muitos gestores, habituados a grandes negócios em tempos curtos, têm grandes decepções quando chegam à imprensa". * O outro texto intitula-se "Mudar de página" e é assinado por Paulo Cunha e Silva. Reflecte sobre a mudança do local da sua colaboração, nas páginas do DN renovado. Escreve o autor, a dado passo: "O grande desafio da imprensa escrita é justamente esse: o conseguir mudar de página, compaginar-se com o seu tempo sem ceder às tentações de abastardamento que a «sociedade do espectáculo» quer impor. E o futuro da imprensa estará cada vez mais na capacidade de ela conjugar os distintos tempos deste lugar paradoxal que mistura o pequeno drama doméstico com o gigantesco drama mundial. O grande desafio é esse. O de ser profundo e superficial ao mesmo tempo. O de ser vertical e horizontal. De ser denso (pesado) sem perder a capacidade de voar. É por isso que um bom jornal é hoje o lugar ideal para experimentar aquilo a que temos chamado obliquidade". * Há ainda, na mesma edição, uma notícia sobre a tendência para pagar os serviços na Internet e que termina com uma frase que me deixou dúvidas sobre o que entende o DN por weblogs (melhor: quem escreveu a peça) : "Finalmente, os weblogs, também conhecidos por blogs (espaços pessoais de escrita na Rede, que permitem que os leitores sigam o caminho de tudo o que é publicado e arquivado), tornaram-se populares em 2002, mas espera-se um verdadeiro boom ao longo deste ano".
0 resposta(s) para “”
Responder