Judite de Sousa vem hoje justificar-se e justificar a RTP quanto à "conferência de imprensa" de Fátima Felgueiras, recorrendo a argumentos estimáveis mas falaciosos. Na sua coluna semanal no Jornal de Notícias, recorre a Freud para dizer que "o objecto ou o sujeito de desejo pode tornar-se um objecto ou um sujeito de rejeição" e a Dominique Wolton que considerou que os intelectuais "são, desde sempre e em todos os países, reservados ou até hostis à televisão". A apresentadora explica: "Para os políticos, Fátima Felgueiras não é uma mulher "gostável". Com o seu estilo, com a sua fuga, com os seus ataques, ela é uma figura politicamente incorrecta e os políticos não apreciam o género. Quanto aos jornalistas, uns entregam-se ao choro do perdedor, outros não conseguem compreender um "media" que os fascina, mas cuja complexidade não entendem: a informação em tempo real, a imprevisibilidade do directo, a semântica da imagem, o exclusivo controlo sobre a pergunta num directo ou num "live on tape" e a consequente impossibilidade de controlo da voz das pessoas, a grelha como espaço simbólico da televisão generalista, a gestão da antena…etc.. Quanto aos outros, alguns revelam um pensamento tão ligeirinho que o melhor… bom, o melhor é mesmo reflectirmos sobre o que nos diz um homem insuspeito, o sociólogo francês Dominique Wolton." Há dois argumentos débeis e com o seu lado falacioso na argumentação de Judite de Sousa. Um é o do grande público. O ensaio de Wolton, de meados dos anos 80, reporta-se a um panorama audiovisual que o próprio autor reconhece hoje tendencialmente em vias de extinção. O "Elogio do Grande Público" soa hoje, cada vez mais, a uma "Elegia sobre o Grande Público". A outra debilidade é que Judite de Sousa quer defender a lógica televisiva em geral, esquecendo as responsabilidades específicas do prestador de serviço público. Sobre este ponto, a autora não diz rigorasamente nada. O que não deixa de ser inquietante, embora, por outro lado, perfeitamente coerente com a orientação do seu director que só conhece a distinção entre "bom e mau jornalismo". E, a propósito, Judite de Sousa, constato que todas as posições oriundas da RTP, até hoje lidas e escutadas sobre este caso, foram todas de pura auto-justificação. Nunca um sinal, por mínimo que fosse, de valorização ou reconhecimento da validade de um argumento ou de um bocadinho de um argumento. E não foram poucas as vozes que se fizeram ouvir. Devem ser todas desses intelectuais que não compreendem a natureza do meio televisivo.
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