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Criar mercado e poupar dinheiro As medidas ontem apresentadas pelo Governo para o sector da Rádio e Imprensa regional e local reveste-se de um significado político que não deveria ser descurado. As propostas envolvem numerosos aspectos, alguns deles de grande complexidade, para que se possa fazer, para já, uma análise cabal. O que parece consensual é que a proliferação de meios locais, longe de exprimir um desejável pluralismo de vozes e de projectos, representa sobretudo uma dispersão de energias e de recursos e a expressão da falta de condições de natureza profissional e de gestão exigíveis para a qualificação deste subsector mediático. Segundo dados do Governo, existe uma grande pulverização de jornais (4.291 títulos registados no ICS, dos quais 900 regionais, enquanto que em Espanha, por exemplo, há apenas 213 jornais regionais e locais). O panorama do sector das rádios locais é igualmente elucidativo: 354 estações, contra, por exemplo, apenas 190 na Alemanha. Estes dados, combinados com as transformações sócio-demográficas de vastas zonas do território nacional e com as mudanças tecnológicas ocorridas na última década, fazem com que se torne evidente que o sector tenha de mudar. Essa consciência da mudança parece existir numa parte dos actores no terreno e entre os dirigentes das principais associações do sector, embora sejam manifestas as contradições e as resistências, dados os hábitos adquiridos e os interesses em jogo. Dando aqui e tirando acolá, num terreno extremamente "armadilhado", o Governo conseguiu, aparentemente, lançar as reformas que entendeu oportunas. É provável que tenha razão de ser a interpretação que faz o Público, na peça que hoje publica sobre o assunto, assinalando duas grandes orientações das medidas governamentais:promover uma lógica em presarial no sector e reduzir os apoios públicos aos media regionais e locais. Ou seja, criar mercado e poupar dinheiro. Tais metas não são, em si mesmas, negativas ou positivas. Aquilo que lhes dá sentido é averiguar em que medida o pacote legislativo agora apresentado _ sintomaticamente, o porte pago reduzido a 50% é para entrar imediatamente em vigor _ permite alcançar uma comunicação social de âmbito local e regional mais plural, dinâmica e profissional ou, em contrapartida, de que modo o mesmo pacote não será o caminho para preparar o terreno para que os grandes grupos encontrem neste subsector um terreno favorável à sua expansão e à sua lógica.


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