Os jornalistas e a sedução das estatísticas Alberto Dines, escreve no último Observatório de Imprensa ("Seduções e castigos da numerologia") sobre um pedido de desculpas do jornal A Folha de São Paulo. Chamou-me a atenção o seguinte passo: "Nossa imprensa (nela compreendidos a maioria dos editores e repórteres) é basicamente indolente e/ou crédula. A "fonte" tem aqui o caráter de oráculo, divindade onisciente diante da qual o jornalista se curva, incapaz de acionar qualquer tipo de ceticismo. E quando a fonte despeja algumas cifras, dados ou estatísticas, num passe de mágica, extingue-se qualquer resistência ao que está sendo veiculado. Na origem de quase todas as nossas mazelas jornalísticas está presente uma incompreensível incapacidade para duvidar das fontes. A expressão inglesa to take for granted, aceitar como verdadeiro, poderia definir esta nossa inocência nada inocente. Servidão elementar que na última década produziu desastrosos episódios de desinformação. O culto às cifras é filho do "jornalismo declaratório", irmão da pesquisite (aquele tipo de jornalismo acoplado às sondagens de opinião) e primo do "jornalismo fiteiro" ? este, no qual uma gravação clandestina, vídeo secreto ou dossiê confidencial é jogado no colo de um jornalista que apenas os transcreve (e, no caso de gravações, por rotina, submete aos laboratórios da Unicamp para detectar eventuais manipulações de ordem técnica)". Sobre este mesmo assunto, escreve Marcelo Beraba, ombudsman da Folha: "O erro da Folha sugere algumas reflexões. Primeiro, e antes de tudo: os jornais e os jornalistas adoram relatórios e números. Se chegam, então, de agências internacionais, nem se dão ao trabalho de checá-los. Foi o que aconteceu nesse caso. Pesquisas, relatórios e estatísticas são grandes aliados do jornalismo. Ajudam a tirá-lo do impressionismo e do achismo. Mas devem ser usados com parcimônia e critérios senão causam indigestão."
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