"E os jornalistas, que pensam disto?" Augusto Santos Silva prossegue, na sua coluna semanal, no Público, uma reflexão já iniciada há 15 dias, sobre as tendências no campo mediático, em Portugal. Procura mostrar que não captam o alcance do que de facto se está a passar entre nós aqueles que se circunscrevem aos "casos" que têm agitado a actualidade, em torno do debate sobre as interferêncis do poder político no campo mediático. Segundo aquele sociólogo e deputado, o caso Marcelo ou as afirmações de Morais Sarmento sobre o serviço público não podem ser desligadas de outras movimentações, como as mudanças na administração Lusomundo Media e, sobretudo, a implementação de uma central de comunicação do governo: "A gente - observa Santos Silva - não pode deixar passar em claro o facto, que causaria desconforto em qualquer democracia viva, de o mesmo ministro controlar a central de propaganda do Governo e tutelar a televisão e a rádio públicas e o Instituto Nacional de Estatística." Indo mais longe, escreve: "O que dá um tom de podridão à circunstância presente é esta forma de condicionar politicamente o campo mediático, tão típica de Santana Lopes e Paulo Portas. Mas, insisto, as coisas vão mais além. Porque a resposta à pergunta que logicamente se sucede - como se explica a ascensão destes poderes e destes protagonistas vazios de qualquer substância? - encontra-se mais na convergência (na aliança?) entre o que hegemoniza agora a esfera mediática e o que hegemoniza agora a esfera política. As criaturas que hoje justificadamente assustam tantos jornalistas, e tornam "irrespirável" o ambiente vivido em tantas redacções, são, a maior parte delas, criações de jornalistas. Estejam, aliás, em que pólo partidário estiverem - no PSD e no PP, como no PS e no BE." O colunista termina apelando ao debate entre os jornalistas, envolvendo as suas associações, as escolas que os formam e "as variadas instâncias em que se exercita, ou deveria exercitar, a reflexividade colectiva sem a qual não constituiriam, verdadeiramente, uma profissão". Partilho destas preocupações e desafios de Augusto Santos Silva. Entendo, também, que o exame da situação, que se impõe, não pode nem ser circunscrito aos profissionais do jornalismo, nem ficar-se por um debate académico e deve alargar o leque de actores implicados e interessados nas matérias em questão. Tenho dúvidas da associação que me parece fazer Santos Silva entre a "podridão à circunstância presente" e a quebra de "regras de ouro da profissão jornalística e das empresas de comunicação social". A degradação da situação de muitas redacções pode aagravar-se com um clima de pressão política como o que vivemos; mas parece-me que a sua natureza e a sua lógica é mais antiga e mais complexa. Mas completamente de acordo quanto ao debate e, desde logo, quanto à necessidade de "informar sobre a informação". Ou seja: que se está então a passar nas redacções e que os cidadãos devem saber? Tomemos o editorial de anteontem José Manuel Fernandes, no qual alude a "um clima de pressão existente em muitos meios de comunicação social", que "tem vindo a criar ambientes irrespiráveis". Um leitor que não ande muito por dentro destas coisas lê uma afirmação destas e gostaria, certamente, que ela pudesse ser "traduzida em miúdos". O que é que , em concreto, se está a dizer? Que se passa? Se o jornalismo constitui uma alavanca e uma expressão fundamentais do espaço público, não será importante cuidar mais da informação sobre o próprio jornalismo e as condições do seu exercício?
Dois casos recentes: ::Tem andado a ser noticiada e dada como certa a substituição de Fernando Lima como director do "Diário de Notícias". Como é costume, em situações análogas, já estão a circular os nomes que, diz-se, o irão substituir. Isto é assim? Dá-se informação que se julga séria, nada acontece, ninguém se inquieta nem se interroga sobre o que se está a passar e o que significa o aparecimento destas notícias? :: Outro caso: a tão falada "central de comunicação" do governo ter-se-á tornado num assunto tabu para os jornalistas? Soube-se da decisão do Conselho de Ministros quanto à sua criação; soube-se que já tinha um montante atribuído no Orçamento do Estado. Depois, veio o silêncio. Não foram dados passos para a sua implementação? Já há pessoas a trabalhar? Onde? Há resultados desse trabalho? O assunto não será demasiado importante para ser escrutinado em permanência e ao pormenor?
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