Quando o jornalismo se torna parceiro do jogo Dando sequência à peça de ontem sobre os alegados desejos ou apostas de Cavaco Silva quanto aos resultados das eleições do dia 20, o Público escreve hoje que "ex-primeiro-ministro mostrou-se incomodado com notícia" e, num novo texto, intitulado Cavaco tenta evitar vitimização de Santana, prossegue : "O ex-primeiro-ministro não gostou que fosse recordado, nesta altura, que defende que o melhor para o país são executivos de maioria absoluta e que prevê que o PS possa vir a conseguir governar nessas condições. Não gostou também da leitura de que esse cenário será o mais favorável à sua candidatura presidencial, além do facto de o termo "aposta", que era usado no sentido de previsão, estar a ser interpretado como um apoio ao líder socialista". (...) "Como reconheceu ao Público um colaborador do ex-primeiro-ministro aquilo é o que Cavaco pensa, mas não pode dizer porque o PSD não entenderia a sua posição. "Ele não é o Freitas", diz o mesmo colaborador, salientando que Cavaco tem as suas convicções, ou seja, que não muda de partido" Sob o título Cavaco Silva troca as voltas a José Sócrates , refere, por sua vez o Diário de Notícias: "Ao DN, uma fonte próxima de Cavaco Silva afirmou que "o professor não quer entrar em campanha" e "desmente que alguma vez tenha dito que apostava numa maioria absoluta do PS". Segundo a mesma fonte, Cavaco "ficou mal-disposto quando leu a notícia" e tratou de a desmentir formalmente junto do Público. Incomodado, este colaborador do antigo primeiro-ministro admitiu mesmo ao DN que a informação pudesse ter saído do lado de Santana, para que este se pudesse vitimizar". Comentários: - Que há aqui jogadas das fortes, parece não haver dúvidas. Que tais jogadas se cozinhem em diferentes patamares, idem. - Que o jornalismo deva dar conta de tais movimentações, idem idem. - Que um jornalismo responsável não possa ser mera câmara de eco dos jogadores em presença, que recusam dar a cara, aspas aspas. - Então, o que fazer? Só vejo um caminho (não quer dizer que não haja outros - indiquem-nos na área de comentários): esclarecer os leitores sobre as circunstâncias em que surge tal notícia, por que razão não aparecem fontes claras referenciadas, que passos foram dados e que tipo de compromissos (de não revelação) assumidos, porque é que, apesar de tudo a notícia merece divulgação. De outro modo é o próprio jornalismo que se vê enredado nas jogadas em presença e se torna ele próprio jogador, mesmo que involuntário.
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