Algumas notas sobre os últimos dias * Participei, na sexta-feira, na impressionante manifestaçao de Barcelona, de solidariedade com as vítimas do terrorismo e de afirmaçao de cidadania na recusa absoluta do terrorismo, venha ele de onde vier. Cheguei uma hora antes e já nao consegui sair do sítio em que me encontrava, a meio do Passeig de Gràcia, até quase uma hora depois de a manifestaçao ter oficialmente terminado. De resto, a "capçallera" ou frente do desfile praticamente nao chegou a deslocar-se porque todo o trajacto e em especial o ponto de destino, a Plaça Catalunya, estavam completamente pejadas de gente. O silêncio, interrompido pelas palmas ritmadas, as maos erguidas ao alto, tonaram a liturgia um momento único. * Como aqui escrevi na sexta-feira, a autoria do atentado converteu-se numa questao central, de que já se registaram sintomas, nos dizeres de cartazes fotocopiados que foram distribuídos nas manifestaçoes (nao só na de Barcelona, como pude verificar, o que significa que alguma(s) das organizaçoes envolvidas fez/fizeram "trabalho de casa". Foi o caso do slogan "Nao ao terrorismo, nao à guerra". * O dia de ontem foi particularmente tenso, à medida que se caminhava para o fim da tarde. Os principais partidos procuraram manter a dignidade, quando ainda se enterravam as vítimas do massacre e muitos feridos se encontram em estado grave em diversos hospitais. Mas a percepçao de que pode ter havido gestao de informaçao por parte do Governo, no sentido de orientar uma leitura determinada dos acontecimentos, levou a que aquele que era o dia de reflexao da campanha eleitoral se fosse tornando insuportável. * Há muitos elementos que foram saltando para o domínio público que dao crédito à tese de que desde muito cedo o Governo de Aznar tinha na sua posse determinado tipo de informaçoes que pelo menos o obrigava a ser comedido no endereçamento das responsabilidades. Mas quem ouviu, na quinta-feira, a meio do dia, o ministro do interior na televisao (chamando nomes feios a quem se atreveu a duvidar de que tivesse sido a ETA) e veio a saber, depois, que Acebes já dispunha de uma série de dados que aponmtavam noutros sentidos, nao pode deixar de ficar perplexo. * Há aqui um risco de obscenidade que se corre - ou mais grave ainda - de instrumentalizaçao do terrorismo para fins político-partidários. Fiquei com a impressao de que só um inquérito em profundidade a realizar nos próximos tempos, permitirá esclarecer devidamente o que se passou. Uma coisa é certa: os jornalistas, alguns deles, fizeram nestes dias um trablho notável de investigaçao.
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