Se a moda pega... José Vítor Malheiros analisa hoje, no Público, dois casos recentes: a transmissao da cerimónia de entrega dos Óscares, pela cadeia de televisão americana ABC, não em directo mas com um atraso de cinco segundos; e, em França, a cerimónia de entrega dos prémios Victoires de la Musique com dez minutos de desfasamento. Sobre estes factos - o primeiro ocorrendo depois da cena do seio de Janet Jackson e o segundo tendo lugar num contexto de guerra aberta dos artistas contra a política governamental para o sector - leva JVM a comentar: "A questão é que a liberdade de expressão é a liberdade de podermos exprimir-nos sem sofrer escrutínios prévios seja de quem for. Este tipo de atitudes, seja qual for a sua intenção e os seus critérios, dão pelo nome de censura - ou, para usar a expressão adocicada inventada pelo marcelismo, que aqui parece estranhamente adequada, "exame prévio". A liberdade de expressão - e o correlativo direito à informação - é a liberdade de falarmos sem receio de sermos calados, a certeza de que podemos dizer a nossa opinião sem precisar de passar o crivo de outrem, sem correr o risco de um eventual silenciamento, sem submissão. Isso não significa que não haja responsabilização pelo que se diz - pelo contrário. Quer dizer precisamente que a responsabilidade pelo que é dito (ou feito) é sempre assumida por quem disse (ou fez). Depois de ter podido dizê-lo. Responsabilidade em vez de menoridade. A aceitação do princípio do exame prévio e da aprovação prévia do discurso, seja pelos órgãos de comunicação social, pelo Estado ou por qualquer polícia do pensamento é inaceitável numa sociedade democrática (seja em nome da moralidade fundamentalista ou de outra coisa qualquer) e fere algo que é essencial: a liberdade de opinião e de expressão do pensamento."
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