Sobre o directo da "libertação" de Carlos Cruz É de ler o texto "Singularidades de Uma Peça Jornalística", da autoria de Eduardo Cintra Torres, no Público. Um excerto (que não toca a parte mais analítica da peça): "Desde o "pivot" do "serviço público" José Alberto Carvalho tratando a mulher do apresentador pelo nome próprio, às inúmeras referências a haver agora apenas um arguido em prisão preventiva (quando eram dois, pressupondo-se que apenas a de "Bibi" se justificava), até à jornalista da TVI que viu CC orando dentro do carro ("ele está a rezar!"), foi um ver-se-te-avias na tarde de terça-feira. Só houve, de facto, comoção de jornalistas de helicóptero, moto, carro ou apeados. À porta de casa do apresentador apareceram não só amigos e familiares como caçadores de oportunidades mediáticas: quando lhes cheira, colam-se às câmaras como carraças. Lili Caneças disse para as câmaras que nem sequer conhece CC, apenas vinha dar "um beijinho" a um dos advogados. Até o treinador do cão de Cruz foi entrevistado. Os jornalistas não perguntaram o nome do senhor, só o nome do cão. Faltou entrevistar o cão.(...)". Também ontem, Paulo Cunha e Silva escrevia sobre "Imagens canibais" no DN, aludindo a este caso: "(...)Outra imagem forte e trágica, não é a imagem de Carlos Cruz saindo da prisão, mas a imagem dos que colhiam as imagens. Esta metaimagem, esta imagem das imagens, é uma imagem-sintoma. Os vampiros de imagens precipitavam-se avidamente sobre o potente Mercedes de Serra Lopes, o advogado de Carlos Cruz, como que querendo engoli-lo. Ao longe pareciam moscas varejeiras em cima de fruta muito madura. Carlos Cruz visivelmente acabrunhado no banco de trás como criança perdida num mundo que se perdeu de si, escondia-se entre os dois bancos dianteiros. Estranho paradoxo o de o senhor televisão, o de o mestre de todas as câmaras, ser agora a presa favorita desta fera que dominava como ninguém. É a sina do domador que acaba sempre comido pelo leão.(...)" Sobre este mesmo tema, escreveu ontem Eduardo Jorge Madureira, no "Diário do Minho": "Horas e horas seguidas de transmissão em directo apenas serviram para mostrar um espectáculo apalermado, polvilhado de momentos de involuntária comicidade, protagonizado pela aliança povo-jornalistas televisivos. Como agora frequentemente sucede, o tema da notícia foi, nesse dia, apenas um pretexto para a RTP, a SIC e a TVI protagonizarem mais um espectáculo frenético em que a informação é um figurante bem mais dispensável do que a D. Lili Caneças. (...). A informação é hoje, para muitos, apenas o espectáculo da informação. Para esses, já não interessa sequer saber se o ?acontecimento? justifica que se lhe conceda uma grande atenção, o que importa é determinar se o ?acontecimento? possui os elementos que facilmente favorecem a realização de um espectáculo emocionalmente palpitante".
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