O terramoto de Lisboa na Imprensa da época
Os 250 anos do terramoto que destruiu uma parte de Lisboa têm sido ocasião e pretexto para um sem-número de iniciativas dos media. Há, contudo, aspectos que não têm sido consideraos. Por exemplo: como é que a imprensa de então tratou ou, para usar um conceito de hoje, cobriu o magno acontecimento?
Como achega para a resposta a essa questão, deixo aqui o que escreveu Silva Túlio citado por Alfredo Cunha, num livro sobre a fundação e os fundadores do "Diário de Notícias":
"Todos estes papeis eram escaços de noticias do reino; e se falavam de casamentos, obitos ou despachos, era só de gente graúda. Para se conhecer o que era o noticiario d'aqelles tempos, basta a transcripção que vamos fazer.O terramoto de 1755 succedeu a um sabbado. N'esse tempo a Gazeta saía ás quintas feiras. Na immediata á espantosa catastrophe, a folha publicou-se pontualmente, e no fim dizia o seguinte:
"Lisboa, 6 de novembro de 1755. O dia primeiro do corrente ficará memoravel a todos os seculos, pelos terremotos e incendios que arruinaram uma grande parte d'esta cidade; mas tem havido a felicidade de se acharem nas ruinas os cofres da fazenda real e da maior parte dos particulares."
"Mais nada! Hoje, quando arde um predio da baixa, e morre algum bombeiro, no dia seguinte o noticiario de todos os jornaes é (?) como se ardesse Troya! Não se lê outra coisa; é um acontecimento memoravel. Arrazou-se quasi toda Lisboa; morreram sessenta mil almas; estão fumegando os seus melhores templos e palacios incendiados; ainda os gritos de misericordia estão ferindo os ares; o terror paira ainda sobre a cidade; e a Gazeta de 1755 cifra todo este quadro em seis linhas de noticiario!"
Silva Túlio, cit. por Alfredo Cunha, in "O Diário de Notícias - A Sua Fundação e os Seus Fundadores", Lisboa, 1914
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