Proposta à nova Entidade Reguladora dos Media Têm sido várias as manifestações de apoio e concordância com o teor do texto ontem difundido pelo jornal "Público" relativo às condições em que se deveria operar a apreciação da renovação das licenças dos canais privados de televisão. Uma das mensagens recebidas é a de Estrela Serrano, investigadora dos media e docente da Escola Superior de Comunicação Social, que transcrevemos: "Não creio que a AACS ou a nova ERC tenham possibilidade e capacidade para, com algum rigor, avaliarem os 15 anos de actividade da SIC e TVI. De facto, só um trabalho de acompanhamento e análise sistemáticos dos diversos géneros e canais, que aparentemente, não foi feito, por falta de meios, de vontade, de preparação, ou de sensibilidade, permitiria fazer essa avaliação. Sabemos que a análise da televisão é complexa, fazendo apelo a metodologias e instrumentos de análise que requerem estudo e conhecimento aprofundados. Basta pensar que, por exemplo, a análise das notícias televisivas passa por certas descodificações, dado que não se está perante uma imagem mas por um fluxo de imagens em movimento. Por outro lado, à imagem junta-se o som, isto é, o genérico, a música, os ruídos e os discursos, além de que há cada vez mais imagens dentro das imagens, como incrustações, logotipos e outras imagens electrónicas que sobrecarregam o écran. Ora, todos estes elementos são portadores de um significado mais ou menos forte, que faz da imagem televisiva um suporte de sentidos múltiplos. Não basta, pois, podendo mesmo ser enganador, considerar, apenas, indicadores quantitativos sobre o que se diz, quem diz, quantas vezes diz ou contabilizar tempos dedicados à produção portuguesa, à informação ou ao entretenimento, embora eles sejam importantes. É, todavia, necessário completá-los com outros: "olhar" para a linguagem visual e decifrar-lhe o sentido, confrontando-a com a linguagem verbal para lhes perceber o sentido último. Faltam, por outro lado, estudos sobre a recepção, para sabermos que efeitos produzem as mensagens televisivas nas atitudes e comportamentos dos portugueses. Que valores são insuflados pelos vários géneros televisivos? Penso, pois, que o debate urgente a fazer se relaciona sobretudo com o futuro, incluindo nele o canal público. Daí que a minha sugestão vá ao encontro do vosso manifesto, no sentido de uma clarificação das regras em que os operadores público e privado vão operar, sem, contudo, lhes impôr à partida um espartilho normativo sobre o que uma televisão ?deve ser?. Como resulta dos normativos existentes, o problema não é a falta de orientações mas o excesso delas, que resulta, em última instância, no seu incumprimento ou na impossibilidade de avaliar o seu cumprimento. Há, por outro lado, que analisar o perfil daqueles que dirigem as televisões: que preparação têm, que reflexão fazem, que estudos servem de base às decisões que tomam, que diálogo estabelecem com pessoas e instituições adequadas. Enfim, outros enfoques seriam pertinentes. Uma sugestão para a futura ERC seria a contratualização, por concurso público, entre centros de investigação, universidades e politécnicos com provas dadas no ensino e na investigação sobre os media e o jornalismo, de programas de trabalho para acompanhamento sistemático da actividade da televisão em Portugal." Estrela Serrano
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