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A propósito da "Baby TV" O Francisco Rui Cádima, do blogue IrrealTV, teve o mérito, na semana agora a terminar, de marcar a agenda do debate sobre a relação da televisão com as crianças. O fórum da TSF de terça-feira passada pegou no assunto e, tanto quanto sei, um dos programas das tardes de A Dois irá fazer o mesmo dentro de dias. O próprio Irreal TV convocou diversos materiais interessantes, para reflectir sobre a questão. Todo o debate que se faça em torno do problema é pouco para dimensão das questões que nele estão implicadas. Mas é preciso dizer que sabemos pouco sobre o assunto e, por outro lado, tendemos a esquecer que uma das regras básicas, nesta matéria, é a do bom senso. Sara Pereira, uma investigadora que há largos anos trabalha sobre a relação das crianças mais pequenas com o pequeno ecrã, diz-me que tem estado atenta à programação do novo canal por cabo e que lhe tem parecido que existe nele uma evidente preocupação de escolher conteúdos adequados àquela faixa etária. Mas o problema suscitado é mais radical: a Associação Americana de Pediatria, por exemplo, entende que as crianças até aos dois anos não deveriam pura e simplesmente ver televisão. Eu creio que esse tipo de recomendações remete para um fundamentalismo que não faz sentido. Seria como exigir que os bebés, mal nascem, fossem metidos numa redoma, isolados da contaminação do mundo. Trata-se de uma posição neo-rousseaueana que assenta na velha ideia de que a infância é pura e sadia e que a sociedade é que a corrompe. O extremo oposto seria - e infelizmente é, muitas vezes - o fazer da televisão a "avòzinha electrónica" que toma conta dos meninos, nos tempos em que não estão "institucionalizados". Mas, aqui, o problema estará tanto na televisão como naqueles que a vêem. Em conclusão, não me parece negativo que surja um canal voltado para os bebés, desde que tenha qualidade. Parecer-me-ia negativo, sim, que, pelo facto de existir o canal, as famílais fossem depositar à frente dele os seus rebentos, alijando para a TV as suas próprias responsabilidades educativas.


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