Quando os jornais servem para nos ajudar a repensar a nossa condição humana... O editorial de José Manuel Fernandes (Público de hoje) é, de um ponto de vista humanista, um texto de referência. Partindo do caso que ontem dominou a actualidade nacional - o presumível crime de um grupo de 14 adolescentes no Porto - , o que o director do Público nos oferece é uma intrigante reflexão sobre a "finíssima a linha que separa a vida civilizada da inumanidade brutal".
«De certa forma, a violência silenciosa que todos os dias dezenas de famílias praticam quando abandonam um dos seus idosos num hospital, violência para que encontram muitas "justificações", é apenas outra face da mesma natureza humana. É a inumanidade que, se não for contrariada de forma permanente, sobreleva o que preferimos ver como o carácter único destes seres a que chamamos humanos. Não discutam, pois, apenas castigos, molduras penais, modalidades de inquérito, meios à disposição de instituições como aquela de onde saíram os jovens, ruínas urbanas ou, até, as culpas das famílias. Entenda-se antes que o nosso lado sombrio pode emergir a todo o momento e que só o domesticamos com regras, com o estabelecimento de limites, com o percebermos que a maior manifestação de virtude é a autocontenção. Com apreendermos o sentido mais profundo da palavra paz, o que lhe deu Santo Agostinho: tranquilidade na ordem, sendo que, se a ordem começa nos nossos sentimentos, a tranquilidade resulta de vivermos bem na pele que temos.»Que bom quando os jornais também servem para nos ajudar a repensar a nossa própria condição humana, tantas vezes incivilizada e, paradoxalmente, inumana...
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