Condenar o jornalismo Não são de hoje as críticas que se fazem ao jornalismo e à comunicação social em geral. Tenho, aliás, a impressão de que, apesar de um certo olhar apaixonado pelo ofício, sempre houve reservas sobre a qualidade do trabalho dos jornalistas. Muitos são, de facto, os registos que nos dão hoje conta da imagem que os jornalistas tinham na sociedade. Bastaria lembrar, na literatura, os episódios da vida romântica de "Os Maias", de Eça de Queirós, ou, internacionalmente, os escritos dramaturgos de Gustav Freitag, num retrato do chamado jornalismo camaleão - que ora escreve à direita ora escreve à esquerda, de acordo com as conveniências. Cada vez mais se faz também a crítica do jornalismo nas próprias páginas dos jornais. É o que faz justamente Vicente Jorge Silva, no DN de hoje, num texto que valerá a pena ler e de que destaco apenas duas passagens:
«Sou do tempo porventura romântico e quase anacrónico em que o jornalismo se definia como contrapoder, não porque se assumisse como actividade militante contra os poderes estabelecidos, mas porque se colocava numa lógica exterior ao funcionamento desses poderes e tinha em relação a eles um papel de observação e distância crítica, de vigilância democrática e cívica, uma exigência ética no relato rigoroso dos factos e na sua interpretação isenta e imparcial.»
«Não se pode voltar atrás e reinventar a história. Mas também não é tolerável assistir-se impavidamente à agonia de uma profissão essencial à vitalidade democrática e cívica de um país, aceitar a promiscuidade das funções sindicais com as funções deontológicas, admitir a existência de um organismo anedótico chamado "Comissão da Carteira", ou ainda condescender com todos os outros humilhantes sinais de menoridade e desordem que condenam o jornalismo à irrelevância, ao desprezo, à servidão. »
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