Sobre o jornalismo do "jornalismo dos cidadãos"
O Público volta hoje ao tema da relação entre os cidadãos e o jornalismo através de um trabalho de Maria Lopes na secção de Media e do editorial da Direcção:
Gostei de ler o trabalho, embora ele seja, do meu ponto de vista, excessivamente "mediocêntrico" e assente em dois equívocos.
Um é o equívoco juridicista. Como é óbvio, de um ponto de vista legal só quem tem carteira profissional e tem o jornalismo como actividade principal, permanente e remunerada pode ser considerado jornalista. Só que a dinâmica social está a sitiar e a ultrapassar o aspecto legal, como se tem vindo a verificar em muitos países. E a prova é que o assunto está a ser cada vez mais debatido, como o trabalho de hoje do Público bem ilustra.
O outro equívoco é técnológico. O chamado jornalismo dos cidadãos adquiriu pujança e visibilidade muito apoiado no contributo das ferramentas de auto-edição e da difusão dos novos processos de captação, edição e publicitação de mensagens digitais. Mas o fenómeno é também cultural e político. Não se reduz à sua componente técnica. As características da apropriação social das tecnologias e as finalidades com que elas são aproveitadas e utilizadas (nomeadamente para criar novas e por vezes alternativas fontes de informação, introduzir novos centros e temas de interesse, divulgar novas leituras do que se passa) deve merecer a nossa atenção.
Refira-se, finalmente, que, numa das peças da jornalista Maria Lopes, Manuel Vilas-Boas, presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas diz que o órgão a que preside ainda não regulou sobre o assunto do jornalismo dos cidadãos, mas isso poderá acontecer a médio prazo: "Estamos a planificar trabalho e nada do que é imprescindível para a prática do jornalismo nos passará ao lado."
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