O Público realizou ontem, pela primeira vez, uma experiência junto dos seus leitores online, no sentido de debater a eventual publicação de uma fotografia considerada chocante. Por considerar que se trata de uma questão que vale a pena ser explorada, atrevo-me a reproduzir aqui o conteúdo de uma nota publicada hoje pelo jornal, e que está disponível apenas para subscritores: "Durante a tarde de ontem, as redacções dos jornais receberam dezenas de fotos muito chocantes do desastre da Nigéria. O PÚBLICO escolheu uma imagem menos chocante e colocou à discussão dos leitores no seu site se ela poderia ser uma opção para a primeira página do jornal de hoje. Um exercício que tinha o objectivo de discutir no espaço público o tipo de decisões que os media tomam todos os dias, quase a toda a hora. A maioria dos que manifestaram a sua opinião defendeu que a foto não deveria ser publicada em primeira página por várias razões: por ser demasiado chocante, por não acrescentar nada à informação, por poder ser vista por qualquer pessoa nas bancas, por explorar de forma sensacionalista um acontecimento trágico. Houve também quem apoiasse a publicação em primeira página e muitos defenderam a sua publicação no interior do jornal. A experiência foi um êxito - recebemos durante as primeiras horas mais de um comentário por minuto, o que mostra o interesse dos nossos leitores na discussão deste tipo de temas. Por isso, vamos repetir no futuro este convite aos leitores. A discussão que ontem teve lugar no nosso site pode ser lida em: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1257011." [Nota: A imagem em questão pode ser acedida através do link indicado.] A fotografia que acabou por ser escolhida para a primeira página do Público é uma imagem das celebrações ocorridas ontem em Fátima, existindo porém uma chamada de capa sobre a explosão no oleoduto (mas sem imagem). Acrescento, aliás, que numa rápida ronda que fiz a 75 capas de jornais europeus disponibilizadas na Internet, apenas um jornal italiano (Il Gazzettino) colocava em primeira página uma fotografia relacionada com este acontecimento, embora nesse caso a imagem seja perfeitamente inócua. Foi interessante ler, ontem à noite, os comentários que foram deixados pelos leitores, e confesso que tinha bastante curiosidade em ver qual a decisão que o Público iria tomar. A publicação de imagens que possam impressionar os leitores está longe de ser consensual, mas o que me parece positivo neste caso é o facto de o jornal ter dado a palavra aos leitores, e ter ouvido o que estes tinham para dizer. Passo a passo, parecem estar a ser encontradas formas de efectivamente tornar a versão digital do jornal mais interactiva. Para já, por exemplo, é possível comentar as notícias de Última Hora. Talvez um dia essa possibilidade seja alargada às notícias que integram o corpo do jornal... Um pouco menos positivo, na minha opinião, é o facto de o Público não apresentar, no texto que reproduzi, qualquer justificação sua para a não publicação da imagem em questão. Certamente deve ter havido algum debate na redacção sobre este assunto e, como leitora, gostava de ter uma ideia dos critérios editoriais que sustentaram a decisão, algo que não é sequer mencionado. Muito embora veja com agrado uma abertura à participação dos leitores em questões desta natureza, julgo que, se o jornal pretende mesmo "discutir no espaço público o tipo de decisões que os media tomam todos os dias", também deve contribuir para esse debate. Isto é, não se limitar a ouvir os leitores (o que, insisto, já é algo muito positivo!), mas também apresentar os seus próprios argumentos. Caso contrário, quase dá a sensação que a decisão pode ter sido tomada apenas com base nas respostas dos leitores... e isso já me parece uma "abertura" demasiado radical.
O material deve ou n?o ser mostrado ao p?blico leitor antes de publicado, caso exista um interesse da empresa jornal?stica em "abrir suas portas" ao p?blico. Funciona como marketing, ao mesmo tempo em que demonstra a pretensa transpar?ncia do ?rg?o que fizer este tipo de trabalho junto ao p?blico leitor. Com a possibilidade de um cuidado antes da divulga??o do trabalho a ser posto em julgamento ao p?blico leitor. Explico: nem tudo,para que n?o se use de radicalismo, mas algumas coisas devem ser mostradas e partilhadas em opini?es com o p?blico. Com uma "censura" pr?via do que deve ser levado ? an?lise, ? bem poss?vel a particpa??o do p?blico leitor julgando o que deve ou n?o ser divulgado. ? jogada de marketing pura. E n?o deve ser desperdi?ada.