A Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) acaba de divulgar os fundamentos da sua decisão de renovar as licenças de emissão aos operadores privados SIC e TVI. É um documento extenso (102 páginas) e que vai seguramente constituir uma referência para as análises a fazer ao trabalho dos dois canais comerciais de sinal aberto. Alguns comentários, após uma leitura necessariamente rápida do documento: - Em primeiro lugar, se o processo tivesse sido outro, nos últimos anos, e não se tivesse seguido uma política de "laissez faire, laisser passer", não é seguro que os operadores privados não vissem, agora, a renovação ser-lhes recusada. Os dados e os argumentos da ERC são suficientemente fortes, no que toca à inversão de trajectória - e ao deitar pela borda fora compromissos assumidos - por parte dos dois canais, quanto aos programas de informação, à programação para a infância e aos programas de índole cultural. Isto é, tem estado em causa o carácter generalista dos canais, tal como o mostrou a investigação de Felisbela Lopes (sobre a informação) e de Sara Pereira (sobre a programação para as crianças). - Por outro lado, é salutar que a ERC, ao dar luz verde às emissões da SIC e da TVI, comprometa estes canais com um conjunto de obrigações especificadas (cf. pp.98-102). Dir-se-á que se trata, ao fim e ao cabo, de uma listagem de obrigações que decorrem da Lei da Televisão e das promessas oportunamente formuladas pelos próprios canais. Mas é bom que fiquem explicitadas. Resta ver agora como a programação futura desses canais irá traduzir na prática as linhas definidas. - Finalmente, é de sublinhar que a ERC fez o seu trabalho de casa. Seguindo um rumo que tem caracterizado a sua intervenção, procurou fundamentar a deliberação tomada recorrendo aos normativos legais, à pouca investigação existente e aos igualmente escassos dados sistematizados sobre a programação dos nossos canais televisivos. Pode - e deve - discutir-se a substância do seu pronunciamento ou a metodologia de trabalho seguida. Mas parece-me que não se pode criticá-la por não ter estudado o assunto e fundamentado os seus juízos. Ora, para credibilizar a sua acção, isso parece-me fundamental. Complemento: Aspectos de incumprimento da SIC:
A quest?o que coloco ? a seguinte: "Quais os pontos de contacto entre o projecto inicial da TVI - que esteve na base da atribui??o da licen?a - e a programa??o actual da esta??o?"
Imagino que fosse algo de impratic?vel a n?o renova??o da licen?a ao operador 'l?der de mercado', mas, em minha opini?o, os "aspectos de incumprimento" da TVI s?o muito mais vastos e abrangentes, a requerer uma ac??o "fiscalizadora" mais "interventiva".
O argumento de que as televis?es mostram o que o p?blico "quer ver" n?o pode servir para justificar todos os 'desvios' ao compromisso assumido pelas esta??es quando lhes foram atribu?das as licen?as.