“Acredite se ler no Expresso” Não podia ficar sem referência a decisão do Expresso de publicar, na edição de sábado, um “Código de Conduta”, que apresenta como “um compromisso com a sociedade”. É, desde logo, um bocadinho pretensioso. Com os leitores já não estaria mal. Mas mesmo relativamente a estes, somos logo avisados em editorial: A Direcção e a Redacção do Expresso já se orientam, “no essencial”, por estas regras, “o que não significa que elas tenham sido sempre integralmente respeitadas e mesmo que venham a sê-lo no futuro”. Motivo: “nenhuma lei é cumprida a cem por cento”. Fica, assim, em suspenso uma margem de erro, que não está rigorosamente calculada e definida e que serve de alibi para o Expresso continuar a fazer o que tem feito e a ser o que tem sido. O que ainda não vi ser tomado como motivo de reflexão foi a oportunidade. Tantas são as explicações que acompanham o Código e nenhuma sobre o porquê de o publicar agora. Serão efeitos das (aqui ténues) ondas de choque do New York Times? Serão os ecos de algum debate público ou interno, na sequência de polémicas recentes? (Recorde-se que as reacções da Direcção Editorial a uma célebre manchete publicada na edição de 31 de Maio foram sensivelmente idênticas às do Director de Informação da RTP sobre a cobertura da “conferência de Imprensa" de Fátima Felgueiras: em ambos os casos, aqueles órgãos de informação ter-se-iam limitado a fazer “bom jornalismo”.) Há um ponto que não aparece no Código de Conduta e que, no caso do Expresso, pode ser o que, de forma mais eloquente, nos dá a indicação de que se trata, no gesto da publicação, de um certo “fogo de vista”: não há referência normas relativas à identificação das fontes das notícias. Há, nesta matéria, aquilo que me parece ser um claro retrocesso relativamente ao actual Código Deontológico dos Jornalistas, que estabelece aquilo que muitos não cumprem: “O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. (...)”. Ora este julgo que será um dos grandes “calcanhares de Aquiles” do Expresso”. Num estudo em que colaborei, há cerca de dois anos, o Expresso era, de entre os jornais de informação geral, aquele que mais matéria informativa publicava sem referenciar devidamente as fontes. Ora, como julgo que concordarão, este é um dos pontos sensíveis, que mais compromete a credibilidade de um jornal. Em diversos outros pontos, o documento que passa a vincular os jornalistas e colaboradores do semanário do grupo Impresa limita-se a enunciar aquilo que já se encontra na Lei de Imprensa, no Estatuto do Jornalista e no Código Deontológico da Profissão. O ponto sobre o acesso privilegiado a informação financeira talvez seja uma explicitação inovadora. Em todo o caso, eu gostaria de dizer que me parece, apesar de tudo, positivo que o jornal assuma este compromisso com os leitores. Estes, que não conhecem, na maioria dos casos, as normas deontológicas que regem o jornalismo, encontrarão à mão um instrumento para ajuizar sobre aquilo que o jornal publica e assim tomar as atitudes e posições de crítica ou de aplauso que entendam dever assumir (já agora, seria vantajoso que o documento fosse colocado online em regime de acesso livre). (Vejam-se achegas sobre esta matéria nomeadamente em A Esquina do Rio, Dicionário do Diabo e Flor de Obsessão).
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