Fonte suicidada e ... manobras de diversão A imprensa sensacionalista britânica chama "rato" ao jornalista Andrew Gilligan e as forças mais conservadoras apelam ora a um maior controlo da BBC ora à sua privatização pura e simples. A lógica, agora, é a do bode expiatório: quem deverá ser responsabilizado pela morte de David Kelly, conselheiro científico do Ministério da Defesa britânico e do número 10 da Downing Street? Deveria o jornalista (e a a estação) ter revelado a identidade da sua fonte de informação, quanto ao modo como o governo de Blair lidou com o dossier das armas de destruição maciça? Esse é um ponto sensível - e, poderíamos dizer, decisivo - no que respeita à independência e credibilidade do jornalismo. Não é frequente que casos destes cheguem ao ponto a que este chegou. Mas não será avisado aproveitar o clima emocional que o suicídio provocou para pôr em causa o dever ético dos jornalistas de não revelarem as suas fontes de informação, quando assim tenham com elas acordado. De qualquer modo, a pressão foi de tal ordem - desde logo sobre o próprio cientista - que a BBC se viu forçada a transgredir um princípio que, desde 1937, nunca tinha violado: vir publicamente confirmar que Kelly foi de facto a sua fonte. Está ainda por apurar se uma informação de tanta gravidade foi (ou não) difundida depois de devidamente verificada. Se tal não ocorreu, a posição da BBC fica claramente vulnerabilizada. De qualquer modo, o fulcro do problema - o de saber se o Governo britânico carregou nos tons para sensibilizar a opinião pública para a causa da intervenção militar - esse já pouca gente o discute. Como salienta hoje o editorial de Le Monde: "Que les proches de Tony Blair essaient de détourner l'attention du public sur la tragédie de cet homme est compréhensible, mais cela ne doit pas effacer l'essentiel : le gouvernement britannique n'avait pas les preuves qu'il prétendait avoir, notamment dans le fameux rapport publié en septembre, sur l'existence, le type et le danger des armes de Saddam Hussein." Para uma perspectiva do que têm escrito sobre o assunto alguns jornais britânicos, clicar aqui e aqui.
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