Sinais (minoritários) dos tempos Do texto "A televisão por um sabonete", de Joâo Miguel Tavares, no DN: "A televisão da minha sala não está morta, mas definha. Longe vão os tempos em que abria o olho mal eu entrava em casa, e me acompanhava noite dentro, sem pestanejar. Hoje envelhece muda, com uma ou outra demonstração de vitalidade _ um jogo de futebol, um telejornal mais assanhado, uma visita que insiste em ver a novela _, mas sempre em doses homeopáticas e sem qualquer espécie de fidelidade à programação dos canais abertos. A esses, a minha televisão fechou-se. Não por me repugnarem os reality shows, a banalidade das telenovelas portuguesas ou a tabloidização dos noticiários. A repugnância ainda é uma forma de fascínio. Simplesmente, os canais generalistas, na sua pastosa mediocridade, na sua «programação classe C», não me despertam quaisquer sentimentos - apenas um infindável tédio. (...) Da mesma forma que não usamos todos os dias, durante três ou quatro horas, uma batedeira, uma máquina de lavar ou um aspirador, também a televisão recuperou a sua dimensão puramente utilitária _ já não é ela, com o seu olho gigante, que me vê a mim, mas sou eu que a vejo a ela, quando quero e como quero. (...)".
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