A produção científica portuguesa no âmbito das Ciências da Comunicação A recente realização na Covilhã dos congressos de Ciências da Comunicação nacional, ibérico e lusófono e a próxima realização, na Universidade do Minho, do V Congresso Português de Sociologia são excelente motivo para uma pequena nota, num momento em que se encontra em debate público o "Novo Modelo de Financiamento à Ciência", em Portugal. No que diz respeito às Ciências da Comunicação, António Granado já por diversas vezes anotou a insignificante produção científica portuguesa em revistas internacionais academicamente credenciadas (em que os artigos são objecto de avaliação independente). Ainda na semana passada, ele criticava o presidente dos Congressos da Covilhã, o Prof. António Fidalgo, pelo teor do seu discurso de abertura, em que abordou o assunto. Julgo que o António Granado tem razão, no sentido de que temos de fazer um acrescido esforço de internacionalização da produção científica portuguesa nesta área. Embora não possamos esquecer que essa avaliação e validação começa a ser feita, nomeadamente através da análise e veredicto sobre os centros de investigação por parte de júris internacionais, como o que ocorreu recentemente nas Ciências da Comunicação. Mas julgo também que chamar a atenção para esse objectivo não pode fazer esquecer os condicionalismos que afectam, de um modo geral, o campo das Ciências Sociais em Portugal. Entre esses condicionalismos, recordo dois: o carácter recente destes estudos na Universidade Portuguesa e, estreitamente relacionado com ele, a verdadeira amputação deste campo na Universidade, ao longo do Salazarismo. Acresce um facto não despiciendo: a tradição francófona de muitos investigadores que, no regime anterior, fizeram a sua formação no estrangeiro. Tudo isto faz com que não seja legítimo comparar campos consolidados, com uma longa trajectória de intercâmbios internacionais, designadamente no universo anglosaxónico, e campos que estão ainda a criar massa crítica, a lançar os seus programas de mestrado e doutoramento e a solidificar os seus centros de investigação. Ora é precisamente este tipo de condicionalismos que o documento do Ministério da Ciência e Ensino Superior, que tem estado em discussão, escamoteia completamente. Ao medir tudo pela bitola dos sectores científicos consolidados - nomeadamente quanto ao peso dos parâmetros de publicação em revistas internacionais - corre o risco de deixar na valeta as Ciências Sociais, numa fase em que se tornaria necessário apoiá-las precisamente para que possam internacionalizar-se mais. Nesse aspecto concordo com parte dos alertas lançados hoje por Manuel Villaverde Cabral no DN. Não me parece, ao contrário do que defende este investigador, que não se possa conhecer a nossa sociedade se uma parte da produção científica for feita num idioma que não o português. De resto, tal produção abre terreno a projectos internacionais e a estudos comparados que são essenciais para o estudo da nossa sociedade. Mas há especificidades que deveriam ser acauteladas e não são.
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