O "cerimonial" português nas formas de tratamento Uma prolongada estadia em em Barcelona, que terá o seu epílogo na última semana deste mês, tornou para mim mais evidente aquilo de que, de forma mais esporádica, nos apercebemos a cada passo: o contraste flagrante entre a informalidade e simplicidade do tratamento no país vizinho e as nossas tradicionais mesuras e cerimónias. A questão ainda não é totalmente pacífica em Espanha, como pude verificar, através de textos nos jornais em que se criticava a excessiva informalidade, em particular na televisão. Mas, por exemplo, na U. Autónoma de Barcelona, não encontrei um único estudante ou funcionário que tratasse o professor por "usted" e menos ainda por "senhor professor". O nome de cada um - e não o tíítulo - é o que verdadeiramente conta. Entre nós, pelo contrário, é o senhor engenheiro, o professor doutor, o dr., a senhora enfermeira, o senhor ministro, a senhora deputada, o senhor presidente: o título ou a posição social instauram a desigualdade num plano em que todos somos igualmente simples cidadãos. Está aqui uma marca do atavismo que ainda nos caracteriza em muitos aspectos. Lembrei-me disto a propósito de um texto publicado no número de Novembro passado do Journal of Computer-Mediated Communication, da autoria de Sandi Michele de Oliveira, da Universidade de Copenhaga, que se intitula "Breaking Conversational Norms on a Portuguese Users Network: Men as Adjudicators of Politeness?" e de que deixo aqui o resumo (o texto está disponível na sua integralidade): "This article examines messages exchanged via asynchronous CMC at a Portuguese university that would be considered impolite in face-to-face interaction (cf. Brown & Levinson, 1987; Culpeper, 1996; Oliveira, 1985, 2003; Oliveira Medeiros, 1994). A comparison by gender was conducted of the degree and nature of participation in the university Users' network, focusing on transgressions and chastisement involving inappropriate message content, message form and address form selection. Although women participate less often in discussions on the network, messages posted by women are more often treated as transgressions, while men more often initiate responses demonstrating concern with established norms of politeness and the importance of adhering to them. These results confirm traditional gender roles of men as interactionally dominant and representative of "authority," but do not support findings for English-language CMC that women are more concerned with politeness than men (Herring, 1994; Smith, McLaughlin & Osborn,1997); rather, Portuguese men on the university network assume the role of "politeness adjudicators."
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