Publicidade e jornalismo: disputa de fronteiras De entre as várias matérias interessantes que o Público de hoje traz (a opinião de Mário Mesquita ou de Eduardo Cintra Torres; o trabalho de Paulo Miguel Madeira sobre os podcasts nas rádos nacionais), gostaria de chamar a atenção para a coluna do provedor do leitor. Depois de, há oito dias, Rui Araújo ter criticado o jornal por não ter assinalado - na cobertura do Lisboa-Dakar - os escritos de Margarida Pinto Correia como publicidade ao serviço da empresa Precision, o administrador desta empresa escreveu uma carta a rebater a leitura feita. Rui Araújo é parco, mas eficiente, nas respostas que dá. O seu texto merece ser guardado e analisado certamente por causa do que nele é dito e sugerido pelo representante da empresa. Mas sou levado a pensar que tanto como o que é dito merece atenção o facto de aquilo ter sido dito. Em concreto, o senhor da Precision acha a coisa mais natural do mundo que uma empresa que não é de jornalismo possa não apenas fazer pretenso jornalismo (visto tratar-se de uma forma capciosa de fazer publicidade), mas também impor como jornalismo aquilo que faz . A carta do tal senhor - e os termos do contrato que terá feito com o Público - vêm dar razão ao que escreveu há oito dias Rui Araújo. Mas a questão não acaba aqui. No texto do administrador da Precision afirma-se, embora sem concretizar, haver no Público reportagens que terão servido para "rentabilizar investimentos". Um assunto que merecia a pena ser esclarecido. As fronteiras entre o jornalismo e a publicidade nunca foram tranquilas. São múltiplas as formas de passagem de um lado para outro. Mas esta modalidade, a que a ex-jornalista Margarida Pinto Correia deu a cara e a pena não deixa de ser interessante: joga com uma não-jornalista que passa, aos olhos do leitor comum, por jornalista e com um texto formalmente jornalístico que não passa, aos olhos do leitor comum, como forma dissimulada de publicidade.
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