"Moralmente repugnante". Assim classifica, em título, o site da Câmara Municipal do Porto, a coluna de ontem de Joaquim Fidalgo, no Público, intitulada Boa memória. O motivo do texto de Fidalgo era uma notícia do mesmo jornal, na qual se dava a conhecer que, nos protocolos de financiamento da autarquia municipal portuense, se passava a exigir que as instituições financiadas não criticassem publicamente a Câmara (para conhecer a posição da edilidade, cf. comunicado CMP desmente o Público). Na coluna de ontem, Fidalgo escrevia sob a forma de carta a um amigo e antigo colega seu do jornalismo, que faleceu precocemente, e que foi também , por sinal, um grande amigo de infância de Rui Rio, para sublinhar que, apesar da amizade, um acto como o do agora autarca do Porto nunca deixaria de merecer a discordância daquele amigo. O presidente da Câmara do Porto não gostou e escreveu, ou mandou escrever, a tal reposta considerando o artigo de Fidalgo "moralmente repugnante". Conhecendo o autor do texto, fui ver o que havia de repugnante. O que se conclui é que doeu a Rui Rio que o colunista do Público tenha invocado um amigo comum. Compreensível. Mas é numa pequena frase que muito se revela o que aqui está em jogo: Rio questiona que o tal jornalista "se fosse vivo estaria ao lado dele [Fidalgo] contra o velho amigo e companheiro de muitos anos". Ora o colunista do Público nunca pôs as coisas nesses termos. Não foi no plano das pessoas ou da fidelidades às pessoas. Não foi: ele está comigo e não com Rui Rio. Colocou as coisas no campo das ideias, no valor da liberdade da crítica, o que é completamente diferente. Ou seja, esta distorção da opinião de outrem é que qualifica moralmente quem a faz. Em tempo: Vale a pena ler, a este propósito, a coluna "Queridos autarcas", de Augusto M. Seabra, no Público (acesso só para assinantes).
Se olharmos para a pagina da CMP no dia de hoje, a seccao 'Noticias em destaque' inclui tres textos atacando, de forma veemente, o director-adjunto do Jornal de Noticias, David Pontes, uma actriz, Carla Miranda (apresentada como "mulher de Pontes" na certeza de que esse facto ? o mais relevante do seu pronunciamento) e Joaquim Fidalgo.
O executivo da CMP tera, certamente, direito a pronunciar-se sobre o que entender mais relevante, mas surgem-me duas inquietacoes:
1. Se o executivo gasta tanto do seu esforco a esbracejar contra os monstruosos gigantes/moinhos que diz terem sido criados pelos jornalistas nao estara a desviar-se da sua tarefa primeira, para a qual foi eleito?
2. Se o executivo se sente assim tao injuriado - como sugere o pesado titulo 'Moralmente Repugnante' - nao seria isso razao suficiente para que os textos nao aparecessem de forma anonima?
Que credibilidade pode ter um texto cheio de acusacoes nao fundamentadas e nao assinado?
Que credito pode dar-se a quem entende ser esse um procedimento correcto - 'atirar as pedras e esconder a mao'?
Por mais razao que julgue ter, Rui Rio - e quem o aconselha nestes assuntos - procede de forma incorrecta e isso nao o dignifica a si nem ao municipio que dirige.