A um observador externo que observe a crise que vive o diário Libération o impasse em que as coisas se encontram não pode deixar de preocupar. De um lado os planos - tidos por economicistas e fortemente condicionadores do trabalho da redacção - defendidos pelo principal accionista, Edouard de Rothschild, e do outro a proposta da sociedade do pessoal da empresa, com o contributo do ex-director de Le Monde, Edwy Plenel, que originou igualmente reacções muito díspares. Uma sociedade de leitores foi constituída no mês passado e anuncia no seu site ter ultrapassado os 3000 membros (e reunido cerca de 130 mil euros, uns trocos, se comparados com o montante do buraco financeiro do jornal). Tem procurado mobilizar leiotres preocupados com o evoluir da crise e realiza amanhã, em Paris, uma reunião aberta, depois de uma outra que teve lugar na semana passada em Lyon. É uma dinâmica de participação interessante, mas, aparentemente, sem grande peso no desfecho das soluções para o jornal, que muito provevelmente serão tomadas na próxima semana ou, o mais tardar, na seguinte. A questão de fundo - para a qual remete, nomeadamente, o texto do dicurso de Plenel, na assembleia do pessoal do diário, realizada em meados deste mês - é a de saber que jornal faz sentido hoje, tendo em conta a convergência de tecnologias, o papel da Internet (e, no quadro francês, a natureza da restante oferta da imprensa diária). Plenel - na intervenção entretanto transcrita e publicada - defende um investimento estratégico na web, um tipo de informação que distinga o jornal do "ruído mediático" das "breaking news" e uma aposta clara na identidade de esquerda do diário (sem, no entanto, o tornar num jornal de opinião, embora com opinião). Uma resposta no debate que se seguiu à apresentação das suas ideias, em que Plenel terá assumido que um Libération relançado deveria combater frontalmente Sarkozy, numa eventual corrida presidencial deste, suscitou reacções negativas em alguns sectores, designadamente Daniel Schneidermann, que deixou Le Monde em ruptura precisamente com Plenel e que hoje assina uma coluna no Libération (cf. Libé : pourquoi je ne crois pas au plan Plenel). Uma hipótese séria a considerar é aventada pela sociedade de leitores: "existe um risco efectivo de o Libération desaparecer". Complemento: Para uma perspectiva geral deste caso, consultar o dossier que o Libération tem disponível no seu site.
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