A colunista do Público Carla Machado, a propósito de "um estudo recentemente concluído por Ana Rita Dias (Universidade do Minho), sobre a imagem das mulheres nas revistas portuguesas, entre os anos 60 e a actualidade", que "mostra que a expansão da área de intervenção das mulheres para além da casa e dos filhos sempre foi acompanhada de intensa preocupação com a sua masculinização", escreve:
"Nos anos 60, advertia-se a mulher de que não deveria deixar que o trabalho lhe retirasse a sua 'graciosa feminilidade' e lhe roubasse a sua 'vocação essencial de anjo do lar'. E se, umas décadas mais tarde, o trabalho feminino era encarado com naturalidade, a mensagem era ainda assim clara, ao jeito de: 'Deverá a leitora não esquecer, contudo, que é mulher e reservar um tempo para cuidar de si e da sua aparência, sem negligenciar a beleza que é a sua dádiva natural'. Hoje, aparentemente, a mensagem estende-se às mulheres no poder: ocupem cargos importantes sim, mas não se esqueçam: sejam belas! Porquê tal preocupação com a feminilidade das mulheres ou, mais precisamente, com a sua beleza? A minha hipótese é que esta inquietação reflecte a necessidade de manter as mulheres que se afastam dos territórios que lhe estão tradicionalmente reservados num espaço mental em que são, apesar de tudo, inteligíveis. (...) Entendam-me: acho que a beleza é uma qualidade rara e que deve ser apreciada. E seguramente é mais agradável olhar para Ségolène do que para Thatcher. O que isso não tem é nada a ver com o que deveria ser a política. Por isso, das duas uma: ou deixam as roupas das senhoras em paz, ou então façam reportagens sobre as golas altas do Sócrates e os laços de Ramos-Horta. E depois digam-me se isto não vos parece ridículo".
in O fato de Nancy, Público, 30.11.2006
(Crédito das fotos: Thatcher - Scotland on Sunday; Ségolène - Photothèque Région Poitou-Charentes)
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