Desde há uns tempos que não passa um dia sem que tenhamos notícias de despedimentos, convites à rescisão e anúncios de restruturação em órgãos de comunicação social. Mas enquanto até pode ser entendível (que é diferente de aceitável...) este "emagrecimento" de recursos humanos sem critérios jornalísticos quando vindo de empresas que assumem a sua vocação comercial, ele torna-se imperdoável quando é accionado pelo próprio Estado, o suposto guardião da liberdade de expressão e outras garantias da pluralidade... Por isso saliento aqui este retalho da actualidade - o incrível despedimento em massa dos editores da Agência Lusa por se terem recusado a avaliar os seus jornalistas nos moldes propostos pela direcção de Informação. A Lusa é a agência noticiosa nacional, uma sociedade anónima com 17 accionistas e maioria de capitais públicos e aqui vai a história, conforme contada pelo jornal Público: Ontem: "Editores da Lusa demitidos por desobediência Pelo menos três editores da Lusa foram demitidos pelo director de Informação, por se terem recusado a fazer a avaliação dos seus jornalistas nos moldes em que a direcção pede. Os restantes editores ainda não terão devolvido os formulários de avaliação - o prazo para o fazerem termina hoje -, mas a maioria pretende entregá-los em branco. O director terá dito que quem não os preencher será demitido de imediato. (...) Os editores dizem que não se recusam a avaliar - até defendem "uma avaliação regular dos jornalistas" e de si próprios -, mas querem que esta "seja séria, transparente, e com critérios definidos". Afirmam que o formulário que lhes foi entregue "é inadequado": por um lado, "é demasiado vago em alguns itens", por outro, "é omisso quanto a questões" que entendem "serem fundamentais para avaliar correctamente o desempenho dos jornalistas", afirmaram nove editores numa carta enviada há dias à direcção. Há um mês,a direcção informou os editores de que iria decorrer um processo de avaliação dos jornalistas até 30 de Novembro. Mas o novo modelo de avaliação não foi sequer discutido com a Comissão de Trabalhadores e os editores contestaram-no desde o início, sobretudo por a administração não lhes dar explicações suficientes sobre o processo. "Nunca tivemos qualquer explicação cabal sobre para o que servia, o peso de cada critério, e qual o fim a que se destinava", dizem. O formulário, por exemplo, é igual para toda a gente, sejam jornalistas, administrativos ou paquetes (...)." Hoje: "Subdirectores da Lusa ao Lado de Editores Demitidos Os dois subdirectores de Informação da Agência Lusa responsáveis pela coordenação da redacção entregaram ontem uma carta ao director, Fernando Trigo, solidarizando-se com os editores que se recusaram a fazer a avaliação dos jornalistas das suas secções nos moldes pedidos. Rui Moreira e António Bilrero manifestaram assim a sua discordância face a um processo que já levou ao despedimento dos editores das secções Local, Sociedade, Política, Desporto, Agenda e Lusanet. (...). A Comissão de Trabalhadores emitiu um comunicado em que afirma que o processo de avaliação em curso "não preenche o requisito" previsto na Lei das Comissões de Trabalhadores, a qual prevê o "parecer escrito" daquele órgão para actos de "modificação dos critérios de base de classificação profissional e de promoções". "Qualquer avaliação sem o parecer prévio escrito da CT, além de constituir uma clara violação da lei, é inválida nos seus efeitos", diz ainda o comunicado."
0 resposta(s) para “”
Responder