Serei eu que estou a ver mal as coisas ou os Estados Unidos da América e os seus governos aliados tiveram ontem de "meter a viola no saco", pelo menos por mais algum tempo, face ao teor do relatório dos inspectores das Nações Unidas no Iraque? Pois nem o "Expresso", nem qualquer dos grandes jornais diários portugueses, que, noutras circunstâncias, são tão lestos a fazer leituras, entenderam dever pôr as coisas nos seus devidos lugares e dizer, com clareza, que Collin Powell esteve à defesa, que a Administração Bush e o governo Blair tiveram de refrear o furor bélico. Vejamos, caso a caso, as primeiras páginas: Expresso: Na primeira página não há referências ao que se passou ontem no Conselho de Segurança (dia - recorde-se - que era considerado decisivo pela propaganda norte-americana até ao momento de a sessão do Conselho se iniciar). A manchete deste semanário é: "Durão cede à Espanha. Primeiro-ministro desilude grandes empresários". O jornal traz, no entanto, em primeira página o arranque de uma peça sobre as manifestações de hoje em 600 cidades em todo o mundo. Correio da Manhã: Chamada de primeira página: "Relatório da ONU compreensivo com Iraque". (a manchete é: "Bibi prefere antes morrer do que calar"). Note-se, no entanto, que, na peça do interior (na edição digital, surge na primeira página), este diário é bem mais taxativo, ao titular: "Relatório isola EUA" Público: Na primeira página deste jornal, vem o título: "Iraque: Inspectores da ONU Aprofundam Divisões no Conselho de Segurança ", com o seguinte texto de apresentação: "O chefe dos inspectores de desarmamento da ONU, Hans Blix, disse ontem que ainda não encontrou armas de destruição maciça no Iraque mas reconheceu que ainda há preocupações sobre materiais desaparecidos. A França interpretou o relatório como prova de que é preciso continuar inspecções. Os EUA consideram que as inspecções não podem continuar para sempre". (a machete do Público é: "Governo investiga lares de crianças ligados à Igreja". Diário de Notícias A manchete do DN é "Médico usava net para aliciar crianças". A questão da guerra não figura na primeira página (tanto quanto se consegue ver pela imagem que figura na edição electrónica). No "Internacional", surge o título: "Nações Unidas. Relatório apresentado por Hans Blix deixa bem claro que o Iraque tem de provar que já não possui armas de destruição maciça". Jornal de Notícias Neste diárioNovo relatório deixa a ONU mais dividida Inspectores falam em maior cooperação iraquiana. Crise traz prosperidade aos leiloeiros de Bagdade É, no entanto, este jornal que insere um texto de opinião, a coluna semanal de Judite de Sousa que, sob o título de A revolta das opiniões públicas , escreve com clareza: "As opções unilateralistas da administração norte-americana têm vindo a sofrer um forte revés nos últimos dias. Quando se pensava que o caminho para a guerra estava definitivamente traçado, independentemente das brechas existentes com alguns aliados europeus e do cisma na OTAN, eis que a sessão realizada ontem na sede das Nações Unidas se constituiu como um "anticlímax" para os desígnios norte-americanos.A América não está a conseguir vencer as resistências de uma velha Europa que está a lutar energicamente contra o furor belicista da cruzada proposta pela Casa Branca". Vale a pena continuar a acompanhar com atenção a cobertura mediática deste assunto.
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