Preferido é uma coisa, visto é outra O trabalho "Portugueses Vêem Mais Novelas e Séries e Lêem Menos Jornais" que vem hoje no Público e a que o João Gonçalves já fez referência, levanta uma questão muito interessante, que passa por vezes ao lado de um olhar menos atento (como julgo que acontece neste caso). Escreve o autor da peça: "O tipo de programas que os portugueses mais vêem na televisão é significativamente diferente do que é visto pelo conjunto da população europeia. As notícias e as questões de actualidade estão à cabeça dos programas mais vistos quer pelos europeus em geral (88,9 por cento) quer pelos portugueses (70,1 por cento), mas, em segundo lugar, 84,3 por cento dos europeus escolhem os filmes, enquanto na segunda posição das escolhas dos portugueses estão as novelas e séries, entre os preferidos de 38,0 por cento, segundo dados recolhidos na série de inquéritos Eurobarómetro, da União Europeia (UE)." Ora quando nós vamos conferir os dados à fonte, o "European Citizens and the Media - National Reports", editado no passado mês de Maio, deparamos com uma subtileza que, a meu ver faz toda a diferença. Lá não vem que os portugueses e os europeus vêem muito os programas de actualidade e jornalísticos, ou os filmes ou as novelas e séries. Vem, isso sim, que preferem ver. Ora isto é muito diferente. E a nuance não escapou ao resumo que a newsletter de Agosto do Obercom fez sobre a matéria. O caso é clássico: se formos ver o top ten das audiências, que valem o que valem ,mas que são o que temos, encontramos à cabeça as novelas, o futebol, eventualmente alguma série ou sitcom e só depois lá aparecem as notícias. Mas se formos pela rua e perguntarmos o que é que as pessoas preferem ver na televisão não será surpreendente que ponham no topo o telejornal, depois os documentários e só a seguir os futebóis, as novelas, etc. Não é equivalente - nem se pode faze equivaler - o que se desejaria ver (as preferências) e aquilo que efectivamente se vê (as práticas). É certamente um fenómeno que depende da oferta e da estrutura da oferta televisiva, mas depende igualmente, e em forte medida, da percepção do que é socialmente aceitável. E, mesmo que não façam o que dizem, se o dizem, lá teráo as suas razões - e os programadores poderiam pensar um bocadinho nos porquês.
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