Eça e o jornalismo, ontem e hoje - VIII «Paris, Rue de Berri, 28 de Outubro de 1888 Meu querido Bernardo [Conde de Arnoso] Tenho de ser breve e vou portanto ao assunto, do modo mais seco, como um tabelião. Sabes talvez que vou dirigir uma revista, a Revista de Portugal, que a casa Chardron edita. O meu fim, entrando nesta aventura, é fazer com que exista nesse malfadado reino, uma publicação cujo papel não seja pardo e cuja tinta não seja graxa, e onde todos os meses alguns espíritos cultos se reunam, trazendo uma ideia, uma noção, uma fantasia, uma frase, qualquer coisa com que mutuamente se interessem e interessem o público. Tu não podias deixar de pertencer a esta reunião. Somente, tu és dos íntimos do dono da casa, dos que penetram até à cozinha, e portanto tens pela casa uma outra dedicação, e fazes nela uma outra convivência, do que os conhecidos de cerimónia que não passam do salão onde peroram. Isto quer dizer, em estilo florido, que conto contigo para amigo da revista, seu colaborador familiar, seu apregoador e seu cavaleiro. A publicação é de 160 páginas e com todos os requintes tipográficos. Tem dez ou doze secções, todas interessantes e vivas, que vão desde a metafísica até à moda. Tens lá para ti a secção de viagens, a de conto, a de literatura geral. Tens mesmo, querido, se te apetecer, a de economia política! Em resumo, manda imediatamente a tua autorização para que eu te inscreva no Prospecto como colaborador. E sem mais detalhes por ora, crê-me, querido Bernardo, com um bom e longo abraço, teu do c. Queiroz» Eça de Queirós, Correspondência, in Obras de Eça de Queiroz, Vol. III. Porto: Lello & Irmão Ed., p. 599
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