Analogias possíveis entre o jornalismo e a ciência "De como a ciência pode ajudar a notícia". Assim se intitula um texto escrito há já algum tempo pelo jornalista e professor luso-brasileiro Carlos Chaparro. Como ele vem a "matar" para o debate que se tem travado em alguns blogs (cf. post de hoje do ContraFactos & Argumentos) sobre a prática jornalística e a natureza do trabalho dos jornalistas, aqui fica um pequeno trecho desse artigo (salvaguardando, porém, a posição do autor, de que o jornalismo não é uma ciência", mas que lhe fazia bem adoptar alguns procedimentos científicos): " (...) É procedimento científico, por exemplo, olhar os fatos, recortá-los, respeitá-los, investigá-los, decompô-los, relacioná-los com outros - e sempre voltar a eles, para verificações e aferições. Estou convencido de que o jornalismo seria diferente, melhor, mais confiável, mais rigoroso, se os jornalistas adotassem profissionalmente esse procedimento como obrigação metodológica! É característica do conhecimento científico transcender os fatos, ir aos antecedentes, às consequências, às razões que os próprios fatos não revelam, para que adquiram contextos de significação que possam torná-los compreensíveis. Ah! Como o relato da atualidade seria bem mais interessante e esclarecedor para os cidadãos leitores, radio-ouvintes e telespectadores, se houvesse o cuidado e o esforço jornalístico de ir além das aparências e da simples transcrição de recados organizados! É vocação da ciência ser analítica: circunscreve os problemas, estuda-os isoladamente, em profundidade, para que do desvendamento surja a explicação clara e precisa. Que tristeza me dá quando leio textos de repórteres ou percebo decisões de editores que reduzem os relatos jornalísticos a insignificantes atas administrativas, reproduzindo discursos burocráticos, ou construindo-os. São profissionais que, talvez mais por preguiça do que por despreparo, não buscam as contradições e oposições, ou até as complementaridades que dão relevância aos problemas da atualidade. E porque não buscam a essência dos conteúdos, não a enxergam. Empobrecem o seu trabalho e o conceito de atualidade, que dá sentido e importância à profissão. Ensina a filosofia da ciência que o conhecimento científico é verificável. Para assim ser, assume hipóteses a partir de indícios, de conhecimentos pré-existentes (que devem ser pesquisados) e de raciocínios lógicos. Mas a ciência não produz nem aceita verdades a priori; testa as hipóteses, submete as conjecturas à prova, para que todas as afirmações se tornem verificáveis, ainda que para revelar a falibilidade do método. Pois está na hora de os jornalistas acreditarem que o seu sucesso depende da seriedade metodológica com que constroem e socializam conhecimento. (...)". Carlos Chaparro
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