A (falta de) memória nas redacções Isabel Lucas coloca um problema central do jornalismo de hoje, num texto intitulado “Falta de Memória”, publicado no nº 16 da revista “Jornalismo e Jornalistas” (Out.-Dezembro de 2003). Um pequeno extracto: “Há dez anos, quando pela primeira vez tive lugar numa redacção, sempre que me entregavam um trabalho, apontavam-me um jornalista capaz de me ajudar a fazer a reconstituição de um acontecimento. À distância de umas secretárias e em poucos minutos, eu tinha o background da minha história e a informação mínima para poder levantar dúvidas e questionar os interlocutores que iria enfrentar (…). Não falo de um passado longínquo. São apenas dez anos. Mas desde então as redacções foram ficando despovoadas de memória, a memória dos jornalistas com anos de profissão que, em nome da produtividade e da contenção de custos, foram sendo dispensados pelos novos conselhos de administração a quem cumpre gerir os meios de comunicação social como empresas que têm de dar lucro sob pena de fecharem. Não questiono isso. Provavelmente não haverá outro modo e os jornais têm de funcionar e existir como empresas. Mas há uma função inerente à existência de jornais e jornalistas: informar. E a informação não é feita apenas do imediato. Não existe notícia sem um passado que a justifique. Com jornalistas cada vez mais novos, com editores sucessivamente menos experientes, informar é cada vez mais dizer o que acabou de acontecer e as notícias surgem a quem as recebe como actos isolados. A investigação quase desapareceu porque tem custos que as administrações consideram incomportáveis. Há excepções. Mas a regra é a da perda da memória. Uma memória que a Internet não preenche, apesar de ser uma ferramenta essencial à actividade dos jornalistas”.
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