"Mensageiros, Jornalistas e Censores" José Vítor Malheiros questiona, no Público de hoje, a ideia dos jornalistas como mensageiros, conceito que re-emergiu na última semana, na sequência do discurso do presidente da República sobre o escândalo da Casa Pia. Escreve o autor: "Os jornalistas não são mensageiros porque o seu papel não consiste em transportar de um lugar para outro - das folhas de um processo para as páginas de um jornal, por exemplo - uma dada mensagem. Um jornalista não é um estafeta reduzido a um papel de mero transporte, nem um pé de microfone. (...) os jornalistas, sendo mediadores porque estabelecem uma mediação entre leitores e sociedade, são produtores de informação e possuem o dever de escolher, filtrar e validar as notícias que dão - a partir da informação que recolhem activamente ou que recebem passivamente - e até de traduzir, descodificar, explicar, enquadrar ou mesmo comentar as notícias que o exijam. São os autores das notícias." Julgo que JVM fez bem em recordar-nos a todos um conceito básico do jornalismo e dos jornalistas, ainda que que estes também sejam mensageiros e que um mensageiro não tenha que ser irresponsável, no seu papel de mediador entre as fontes e o vasto público. Com efeito, ha uma ética, uma deontologia e uma dignidade no mediador, no mensageiro - e mesmo no "paquete" e no "moço de recados", sem desprimor para qualquer destas ocupações. Mas a importância da questão levantada por JVM é, a meu ver de duas ordens: uma é que muitos jornalistas - ou pelo menos uma boa parte deles - se continuam a ver a si mesmos sobretudo como mensageiros. Outra é que é do interesse das fontes que eles se assumam como meros mensageiros e que seja esse o discurso dominante sobre o jornalismo. Por motivos que parecem óbvios, como bem documenta a gravura junta (ou seja, o que se passou no debate público nos últimos dias).
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