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Sobre o fenómeno da imprensa gratuita Hoje mesmo, o grupo Recoletos, alegado candidato à compra de meios de comunicação da Lusomundo Media, lançou, no país vizinho, o diário gratuito "Qué", com uma tiragem de arranque da ordem do milhão de exemplares, e com edições (extensíveis ao online) em 12 cidades diferentes, com a particularidade de serem em parte feitas com notícias dos próprios leitores, através de um sistema de blogues pessoais e de mensagens SMS. Só para se fazer uma ideia do que isto representa, basta atentar no facto de haver em Espanha, em Setembro último, cerca de três milhões de jornais gratuitos por dia em circulação (notícia da agência Lusa). Entre nós, e na sequência da trajectória do Jornal da Região e do Destak, Metro-Lisboa é um dos últimos projectos dos quase 50 que a Metro Internacional lançou nos últimos anos, em mais de uma dúzia de países, com especial alcance em França, Polónia e Espanha. O assunto está longe de merecer entre nós a atenção que deveria, por parte da imprensa instalada. O site do Clube de Jornalistas acaba de dedicar ao tema um conjunto de peças que vale a pena ler. São muitas e diversas as questões que importa ter em consideração:

  • Concorrem os gratuitos com o leitorado habitual de jornais diários? Com todos ou com alguns em especial? Concorrem no terreno da publiciadade?
  • Que características tem o conteúdo deste tipo de imprensa?
  • O que é gratuito pode ter qualidade?
  • Que características específicas apresenta este tipo de negócio?
  • Como se posicionam os diários pagos relativamente aos gratuitos?
  • Que balanço pode ser feito da experiência das múltiplas edições do "Jornal da Região" e do Destak?
  • Que tendências indicia a expansão do fenómeno da imprensa gratuita?
  • Quais as conexões entre esse fenómeno e a "tabloidização" em países como o Reino Unido, por exemplo?
  • Qual a amplitude internacional do fenómeno?
  • Que potencial de desenvolvimento, num país como o nosso?

Como escreveu Francisco Fernández Beltrán, na revista Chasqui ("Los periódicos gratuitos tienen futuro?", nº 80, 2002):

"Independientemente de que se dirijan a los mismos lectores, o a otros, y de que pugnen diariamente por la inversión de iguales o diferentes anunciantes, lo cierto es que la prensa gratuita que se ha desarrollado en los últimos años en Europa lo ha hecho a partir de un modelo ciertamente diferenciado de la de pago. El primer rasgo distintivo es la ausencia de confrontación política. Se trata de un periodismo que pone el acento en el interés humano de los acontecimientos, más allá de las meras declaraciones partidistas y que busca sobre todo la difusión de informaciones cercanas al lector, algunas de las cuales no tienen cabida normalmente en la prensa de pago. En este sentido, resulta muy esclarecedora la apuesta de todos los gratuitos por las ediciones locales. Un hecho que no está ligado únicamente a su sistema de distribución en el transporte público metropolitano, sino que responde en gran medida a un modelo de periodismo de proximidad y que se refleja también en otros aspectos, como el tratamiento personalizado de la información, con la identificación abundante de los protagonistas de las noticias y profusión de fotografías con gente de la localidad".

Como já em tempos chamou a atenção Josef Kotzrincker, não deixa de ser enigmático que seja precisamente o jornal diário impresso (gratuito) um dos grandes fenómenos dos últimos anos, quando seria de esperar que fosse o webjornalismo a emergir e afirmar-se.

CORRECÇÃO: Ao contrário do que se diz nesta peça, a data do lançamento de "Qué" não é 17, mas 18 de Janeiro.


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