A morte é uma notícia demorada A morte de três figuras públicas nos últimos dias fez-me recuperar uma ideia que regurgito desde o fim do Pontificado de João Paulo II - a de que a representação mediática da morte não resulta apenas da necessidade de informar acerca do termo da vida; tem subjacente uma necessidade de sentir e fazer sentir... como se a atenção à morte dos outros fosse uma espécie de reconhecimento da iminência inescapável da nossa própria morte. Representando o clímax da tragédia, a morte tem nos media um carácter extraordinário de noticiabilidade. No 11 de Setembro, na queda da Ponte de Entre-os-Rios, nos atentados em Madrid e, especialmente, no tsunami asiático do final de 2004, a morte foi a notícia mais demorada. O mesmo se repete de cada vez que morre um personalidade da vida pública - a morte é uma notícia que se prolonga interminavelmente nos telejornais... Apesar de ter algo de compreensível - nomeadamente o facto de a morte representar sempre uma ruptura - é perante outra coisa que estamos quando a morte é notícia. Julgo que o envolvimento emotivo do público é aqui também determinante. (a propósito do tratamento informativo de mortes, era bom que, de uma vez por todas, os jornalistas abandonassem a muleta que é a expressão "última homenagem". Quem disse que é a última? Os comunistas não podem homenagear Álvaro Cunhal na próxima festa do Avante?...)
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