4. Que se passa no mundo? A actualidade, tal como é construída pelo trabalho dos jornalistas, deve ter um lugar de destaque na educação e nas salas de aula. Esta dimensão acompanha, desde o início, alguns dos programas mais interessantes de educação para os media e deveria, a meu ver, ser reforçada no futuro. O que se passa à nossa volta e o que se passa no mundo constitui uma das matérias mais imediatas de acesso à compreensão da vida social e do espaço público. Seja os grandes acontecimentos, que deixam marcas na história dos povos e da Humanidade, seja os acontecimentos do dia a dia, com carga positiva ou negativa – todos eles constituem indícios e chaves de indagação e análise que a educação escolar não pode desperdiçar. É verdade que esta abertura ao que se está em cada momento a passar no mundo próximo e global é exigente. Desde logo, porque supõe que o próprio docente, o adulto, façam um esforço de acompanhamento atento da actualidade. Depois porque o carácter palpitante e fragmentário das notícias conflitua, à primeira vista, com a lógica do saber escolar e torna difícil o distanciamento que seria desejável. Contudo, também é verdade que o esforço exigido, desde que devidamente enquadrado, reverte em maior interesse da parte das crianças e jovens e, acima de tudo, na passagem de uma mensagem implícita de que a escola e a aprendizagem escolar não são um reduto divorciado do dia a dia, dos temas que motivam a conversação social, de pólos de interesse para os estudantes. Os processos educativos e os currículos escolares orientam-se, em última instância para a formação de pessoas capazes de se posicionar critica e autonomamente no mundo e de nele participar. “Torna-se, por isso necessário - observa o historiador francês René Rémond (s/d)– que os jovens “aprendam a apreciar os acontecimentos e a fazer uma triagem na massa de informações que recebem”. “Mais do que um saber ou uma opinião já feitos, o ensino deve propor-lhes um método”, acrescenta. A experiência de 20 anos do CLEMI (Centre de Liaison de l´Enseugnement et des Moyens d´Information), em França constitui, neste contexto, um caso de excepcional importância, cujas linhas norteadoras o seu director, Jacques Gonnet, tem procurado aprofundar, em trabalhos diversos. A abordagem da actualidade na educação não é apenas uma via de conexão com o mundo envolvente, mas também um caminho de conhecimento e construção de si mesmo, na condição de a escola ser capaz de criar aquilo a que Gonnet (1995: 53-64) chama “espaços de disponibilidade”, isto é, a capacidade de assumir a “gestão emotiva da actualidade, de todas as actualidades” (id.: 48). Num registo nem sempre convergente, mas em grande medida animado das mesmas preocupações, encontramos os programas intitulados “o jornal na escola”, com grandes tradições na Europa e nas Américas, alargado, na última década ao serviço noticioso disponibilizado às instituições educativas por cadeias televisivas. Apesar das ambiguidades por vezes ligadas a tais programas, é sempre o esforço de abertura ao mundo envolvente, de compreensão desse mundo e das questões que o afectam que está em causa. É, em suma, o terreno potencial para a educação para a cidadania.
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