O Diário Digital adoptou, a partir de ontem ao fim do dia, um novo visual, apostando mais na largura do que na altura. De entre as mudanças, destaca-se o fim das colunas de Clara Ferreira Alves (CFA) e Mário Betencourt Resendes. A jornalista e escritora aproveitou a sua derradeira coluna para uma espécie de testamento, que intitulou "Despedida digital", no qual emite os seus pontos de vista sobre as transformações no jornalismo e na Imprensa assim como sobre a bogosfera.
Escreve CFA sobre o jornalismo e os jornais nos seguintes termos:
"Nestes anos todos, o meio e o suporte têm sofrido as mais variadas alterações e adaptações, e os jornais de referência, impressos e vendidos em papel, entalados entre a competição (e a competência) das televisões e a obsolescência natural, têm sido obrigados a adaptar-se ou morrer. O formato broadsheet tem vindo a revelar-se impraticável e substituído por formatos menores e manuseáveis, a reportagem e a entrevista, sobretudo a reportagem, têm vindo morrer e a ser substituídas pela opinião e as 'hard news', a manchete já não é a essência da primeira página, as pequenas notícias e as breves ocupam o lugar dos artigos de fundo, a fotografia mudou a sua função ilustrativa e subsidiária, a pedagogia jornalística (por insuficiente ou superficial que fosse) foi trocada pelo sensacionalismo, as secções culturais deixaram de interessar o grande público (também por culpa da neutralidade e banalidade da abordagem dessas secções culturais, cultoras da prosa de epígonos e da indiferenciação crítica), a reportagem de guerra acabou por falta de fundos, a reportagem de investigação extinguiu-se ou vive da denúncia e da administração de rancores denunciantes, as secções políticas privilegiaram a intriga adjectiva sobre a substância informativa e, com tudo isto, e apesar de a fornada de jornalistas ser hoje mais culta e mais educada e mais informada e mais preparada do que alguma vez foi, os jornais não estão por isso mais interessantes ou atraentes".
Acerca da relação entre os jornais, a net e a blogosfera, eis a visão de Clara Ferreira Alves:
"Os jornais ainda não encontraram a fórmula para combater os seus dois inimigos, a televisão e a net, incluindo esse novo mundo da blogosfera, que será em breve um velho mundo e sofrerá o seu backlash. A blogosfera é um saco de gatos que mistura o óptimo com o rasca e acabou por tornar-se um prolongamento do magistério da opinião nos jornais. Num qualquer blogger existe e vegeta um colunista ambicioso ou desempregado ou um mero espírito ocioso e rancoroso. Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, agora publicam-se as ejaculações. Mas, sem querer estar aqui a analisar a blogosfera e as suas implicações, nem a evidente vantagem dessa existência e da qualidade e liberdade que revela por vezes, destituindo do seu posto informativo os jornais e televisões aprisionados em formatos e vícios, o resíduo principal de tudo isto é que os jornais mudaram, e muito, e mudaram muito rapidamente. Parafraseando Pessoa na hora da morte, We know not what tomorrow will bring".
A Rainha da Sucata
Andam por a? umas vozes em sobressalto com o que se escreve na Net, e, ? cabe?a, com a crescente influ?ncia das tem?ticas, abordadas nos ?blogues?, sobre a Opini?o P?blica Nacional. Cumpre-me aqui dizer que sou novo nos ?blogues?, e suficientemente antigo, na Opini?o P?blica. E como me estou, ? cabe?a, aparentemente ? depois, ver?o que n?o... ? zenitalmente borrifando para os ?blogues?, vou, pois, come?ar pela Opini?o P?blica.
Ora, em qualquer pa?s pretendido civilizado, a Opini?o P?blica n?o ? mais do que um misto de emo??o e racioc?nio difuso, que leva a que as sociedades exer?am, em conjunto, as suas auto-an?lises, os seus direitos espont?neos de aprova??o e desagrado, e uma necess?ria catarse colectiva, fruto dos sabores e dissabores do Rumo da Hist?ria.
Os per?odos de Opress?o e de Distens?o medem-se, pois, pelo vigor e maturidade que essa Opini?o P?blica manifestar.
Na sua coluna de despedida do ?Di?rio Digital?, Clara Ferreira Alves, criatura que nunca frequentei, nem sequer sabia que escrevia, mas que, naquele panorama do Rid?culo Nacional, apenas me fazia, de quando em vez, sorrir, entre as suas apalha?adas oscila??es entre o negro azeviche e o louro caniche, dizia eu, centra-se, num dado momento da sua despedida, sobre a perniciosa influ?ncia dos blogues na tradicional ?Imprensa Impressa?: de acordo com ela, ?A Blogosfera ? um saco de gatos, que mistura o ?ptimo com o rasca, e (as v?rgulas atr?s s?o todas minhas) acabou por se tornar num magist?rio da opini?o (d)os jornais?, os quais nunca foram sacos de gatos, sempre souberam recolher o ?ptimo, e nunca constitu?ram um prolongamento do magist?rio dos Interesses Ocultos Predominantes.
? ?bvio que em todos os jornais, como em todos os "blogues", como em todos os programas de televis?o de car?cter rasca, -- terr?veis eixos do mal --, ?existe e vegeta um colunista ambicioso, ou desempregado, (as v?rgulas continuam a ser minhas), ou um mero esp?rito ocioso e rancoroso?, que pode ser v?rio, como os nomes de Sat?.
?Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo liter?rio e escrevia maus versos para a gaveta, [publicando] agora as ejacula??es?, as quais deveriam continuar a ser privadas, porque o exerc?cio da cobri??o, que tantas vezes levou a que um mau texto aparecesse nas parangonas da Cr?tica, fruto de uma noite mais ou menos bem passada, ou de uma jantarada em lugar eminente, poderia, e deveria, pelos mais elementares deveres do Pudor, nunca ultrapassar a atmosf?rica fronteira do Secreto e do Invis?vel. Para mais, parece que, nos blogues, escancarada janela rasgada sobre o Tudo, j? n?o existe aquela claustrof?bica sensa??o das escassas tr?s ou quatro janelinhas, onde a ilumina??o da Cr?tica Impressa revelava ao profano o pouco que se fazia, e, logo, podia aspirar a existir. Parece que nos blogues, dizia eu, se fala agora abertamente de tudo e de todos, e n?o apenas dos amigos, dos que nos assalariaram o texto, ou dos que nos pagaram para sermos gerentes da sua irremedi?vel Insignific?ncia.
Compreende-se a ang?stia da Clarinha: com a ascens?o dos ?blogues? e o decl?nio dos jornais, anuncia-se tamb?m o fim do monop?lio das palas postas nos olhos dos burros, e daqueles que tinham o exclusivo poder de as p?r.
Clara Ferreira Alves manifesta-se inquieta pelo seu Presente, e teme pelo seu Futuro. Mais acrescento eu que o que est? em jogo ?, sobretudo, o seu PASSADO e o de todos os que se lhe assemelham, porque a Cabala, que, durante d?cadas, t?o habilmente geriram, se est? agora a desmantelar por todos os lados.
Nos ?blogues?, nada mais existe do que quem diariamente fale de tudo e todos, sem defender quaisquer sistemas que n?o os da preval?ncia do Excelente sobre o Med?ocre, do Livre sobre o Encomendado, e, sobretudo, quem o fa?a GRATUITAMENTE, ou seja, por mero Dever C?vico, por vontade de intervir, por caturrice, ou t?o-s? pela amistosa gratid?o de poder Partilhar.
? verdade que com os ?blogues?, poder? estar em jogo o fim da Palavra Comprada, e j? estar a vislumbrar-se o in?cio da Era da Palavra Livre e Particular, o Reino da Palavra Gratuita. Talvez seja isso a Comunica??o Global. Em breve, tamb?m a? se far? a separa??o do Trigo do Joio, e passar? a vencer quem melhor escrever e mais for lido, dispensando-se as tradicionais encomendas das almas.
Penso, publico, sou lido, e logo existo. Tudo o resto ? v?o.
Ah, e isto n?o ? um texto para resposta, sobretudo qualquer tipo de resposta, como dizia o Vasco Pulido Valente, que metesse ?na conversa a sua c?lebre descri??o do p?r-do-sol no Cairo.
Muito obrigado.?
A vossa nova formatazao apresenta defeitos...