"O 'sentir, sinta quem lê' de Pessoa reporta-se à poesia, e particularmente à sua, ou a alguma dela. E, para além daquilo que, no processo poético, é 'fingimento' da 'dor que deveras (se) sente', formula uma espécie de programa, de sentido afim do de Valéry dizendo (cito de cor) que a função da poesia não é a de exprimir emoções, mas a de suscitá-las em quem lê. Talvez algo semelhante se possa dizer a propósito de uma notícia de jornal, talvez a emoção, no jornalismo, seja direito do leitor mais que do jornalista, a quem os códigos éticos não se cansam de exigir 'objectividade'. Talvez, por isso, sejam notícias 'objectivas' as que mais me suscitam emoções lendo jornais. (...)"
Manuel António Pina, Um grande e horrível crime, in Jornal de Notícias, 5.12.2006
A proposito da neutralidade tenho mantido uma conversa numa caixa de comentarios do Blogouve-se.
Tudo comecou por uma pergunta que quis fazer ao Joao Paulo Meneses a proposito da Posicao da renascenca sobre o aborto.
O que penso e ai digo e que, sem colocar em causa a seriedade dos jornalistas, a neutralidade me parece impossivel no modo como nos relacionamos com a realidade.
isso nao significa que se procure ser serio e despojar-se de alguns "pre-conceitos" e emocoes mas isso nao significa que seja possivel uma objectividade, uma neutralidade total.
julgo que um dos problemas do jornalismo e nao aceitar com naturalidade, procurando formas de lidar com isso, que a neutralidade e, em grande parte, impossivel.
http://ouve-se.blogspot.com/2006_11_01_ouve-se_archive.html#116490907836884311
cumprimentos
Boa tarde, vim parabenizá-lo pelo blog. Excelente conteúdo.
Saudações.