Mário Mesquita reflecte hoje, no Público, sobre "Teorias do escândalo, a propósito da nova série documental da RTP 2, baseada na comparação de escândalos actuais com outros, de natureza semelhante, ocorridos na primeira metade do século XX. Alguns excertos:
* "As notícias baseadas em acidentes, acasos ou escândalos garantem (ou, pelo menos, parecem garantir), além da curiosidade do público, a autonomia profissional, ao contrário da informação difundida por porta-vozes institucionais." *"Em certos países, a informação televisiva desligou-se dos modelos dos jornais de referência que, durante muitos anos, lhes serviram de referência. Passou a falar-se de "tabloidização" da informação televisiva. Dan Rather criou um neologismo: a"showbizificação" (em inglês, "showbizification") das notícias televisivas." * "Qual o efeito social e político dos universos de redundância centrados nos escândalos dos representantes eleitos e de outros cidadãos ligados à política ou tão-só personalidades notórias da vida social? John B. Thompson (Political Scandal - Power and Visibility in the Media Age, Londres, Polity Press, 2000) identifica quatro diferentes interpretações dos efeitos dos escândalos na vida política e social: (1) a teoria da não - consequência, que os reconduz a meras perturbações efémeras resultantes da "cultura dos media"; (2) a teoria durkheimiana e funcionalista do escândalo, segundo a qual a publicitação dos escândalos equivale a um reforço das normas sociais e das instituições, na medida em que a sociedade se confronta com a necessidade de sancionar as transgressões dos seus membros; (3) a teoria da banalização, oriunda ou herdeira das perspectivas da teoria crítica, postula que a revelação de factos secretos da vida das figuras públicas tem por efeito futilizar o debate público, desviando-o das questões essenciais para circunstâncias menores; (4) a teoria da subversão, ligada ao olhar dito "pós-moderno" (cultural studies), encara os textos dos "tabloides" sobre a política como formas de ridicularização subversiva da ordem institucional e cultural. John B. Thompson não se reconhece por inteiro em nenhuma destas abordagens e propõe-nos uma síntese alternativa: os escândalos são lutas pelo poder simbólico em que a reputação e a confiança estão em jogo. A destruição da reputação e da confiança não é consequência obrigatória do escândalo, mas frequentemente estas saem, se não eliminadas, pelo menos, abaladas ou enfraquecidas."
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