Formatar os acontecimentos e definir a agenda Quando António Guterres anunciou, em Dezembro de 2001, que se demitia por entender que os resultados das autárquicas criavam uma situação susceptível de arrastar o país para um pântano, comentadores políticos e os media em geral encarregaram-se de consagrar a a versão de que o então primeiro-ministro se demitia porque Portugal se encontrava num pântano. A diferença entre as duas versões - entre os dois modos de enquadrar a realidade - são notórias, mas a segunda é que ficará registada para a história. Agora, com as sequelas do "caso Marcelo", os media começam a dar sinais de um comportamento análogo. Cavaco Silva, que fala poucas vezes, entendeu pronunciar-se. O tom foi contundente e duro, mas prudente: ouvi alguns "ses" que são de elementar bom senso: se se confirmar que... se for verdade que... então isto é "muito, muito grave". Pois já vejo hoje a pequena distorção que consiste em retirar os "ses". No Público, por exemplo, já leio que "ontem o ex-primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva quebrou o silêncio para lamentar o afastamento de Marcelo, considerando que Portugal está perante um caso "muito grave". Procurando cavalgar os acontecimentos, o mesmo jornal declara aberta uma "crise política" e o "O Independente" avança em antetítulo da sua manchete, que "Presidente da República pondera dissolução". Para o quadro ficar completo, falta organizar tribunas e debates sobre cenários eleitorais e nomes de ministeriáveis.
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